07 janeiro, 2011

Saudades!

Porque meu soNeto fez 3 anos ontem.
Como ele está longe ,
fiquei sem os abraços mais deliciosos que conheço.
Denise


Netos são como heranças: você os ganha sem merecer. Sem ter feito nada para isso, de repente lhe caem do céu. É, como dizem os ingleses, um ato de Deus. Sem se passarem as penas do amor, sem os compromissos do matrimônio, sem as dores da maternidade. E não se trata de um filho apenas suposto, como o filho adotado: o neto é realmente o sangue do seu sangue, filho de filho, mais filho que o filho mesmo...

Cinquenta anos, cinquenta e cinco... Você sente, obscuramente, nos seus ossos, que o tempo passou mais depressa do que esperava. Não lhe incomoda envelhecer, é claro. A velhice tem as suas alegrias, as suas compensações — todos dizem isto embora você pessoalmente, ainda não as tenha descoberto — mas acredita.

Todavia, também obscuramente, também sentida nos seus ossos, às vezes lhe dá aquela nostalgia da mocidade. Não de amores nem de paixões: a doçura da meia-idade não lhe exige essas efervescências. A saudade é de alguma coisa que você tinha e lhe fugiu sutilmente junto com a mocidade. Bracinhos de criança no seu pescoço. Choro de criança. O tumulto da presença infantil ao seu redor. Meus Deus, para onde foram as suas crianças? Naqueles adultos que hoje são seus filhos, que têm sogro e sogra, cônjuge, emprego, apartamento a prestações, você não encontra de modo nenhum as suas crianças perdidas. São homens e mulheres - não são mais aquelas crianças que você recorda.
E então um belo dia, sem que lhe fosse imposta nenhuma das agonias da gestação ou do parto, o doutor lhe põe nos braços um menino. Completamente grátis — aquela criancinha da sua raça, da qual você morria de saudades, símbolo ou penhor da mocidade perdida. Pois aquela criancinha, longe de ser um estranho, é um menino que lhe é "devolvido". E o espantoso é que todos lhe reconhecem o seu direito de o amar com extravagância; ao contrário causaria escândalo e decepção se você não o acolhesse imediatamente com todo aquele amor recalcado que há anos se acumulava, desdenhado, no seu coração.

Sim, tenho certeza que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Aliás, desconfio muito de que os netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos.

No entanto — no entanto! — nem tudo são flores no caminho da avó. Há, acima de tudo, a rival: a mãe. Não importa que ela seja sua filha. Não deixa por isso de ser mãe do seu neto. Não importa que ela ensine o menino a lhe dar beijos e a lhe chamar de "vovozinha", e lhe conte que de noite, às vezes, ele de repente acorda e pergunta por você. São lisonjas, nada mais.

Rigorosamente, nas suas posições respectivas, a mãe e a avó representam, em relação ao neto, papéis muito semelhantes ao da esposa e da amante dos triângulos conjugais.

A mãe tem todas as vantagens da domesticidade e da presença constante. Dorme com ele, dá-lhe de comer, dá-lhe banho, veste-o. Embala-o de noite. Contra si tem a fadiga da rotina, a obrigação de educar e o ônus de castigar.

Já a avô, não tem direitos legais, mas oferece a sedução do romance e do imprevisto.
Mora em outra casa. Traz presentes. Faz coisas não programadas. Leva a passear, "não ralha nunca". Deixa lambuzar de pirulitos. Não tem a menor pretensão pedagógica. É a confidente das horas de ressentimento, o último recurso nos momentos de opressão, a secreta aliada nas crises de rebeldia.

Uma noite passada em sua casa é uma deliciosa fuga à rotina, tem todos os encantos de uma aventura. Lá não há linha divisória entre o proibido e o permitido. Dormir sem lavar as mãos, recusar a sopa e comer croquetes, tomar café — café! — mexer no armário da louça, fazer trem com as cadeiras da sala, destruir revistas, derramar a água do gato, acender e apagar a luz elétrica mil vezes se quiser e até fingir que está discando o telefone.

Riscar a parece com o lápis dizendo que foi sem querer — e ser acreditado! Fazer má-criação aos gritos e, em vez de apanhar, ir para os braços da avó e de lá escutar os debates sobre os perigos e os erros da educação moderna.

Sabe-se que, no reino dos céus, o cristão desfruta os mais requintados prazeres da alma. Porém esses prazeres não estarão muito acima da alegria de sair de mãos dadas com o seu neto, numa manhã de sol. E olhe que aqui embaixo você ainda tem o direito de sentir orgulho, que aos bem-aventurados será defeso. Meu Deus, o olhar das outras avós, com os seus filhotes magricelas ou obesos, a morrerem de inveja do seu maravilhoso neto.

E quando você vai embalar o menino e ele, tonto de sono, abre um olho, lhe reconhece, sorri e diz: "Vó!", seu coração estala de felicidade, como pão ao forno.

E o misterioso entendimento que há entre avó e neto, na hora em que a mãe o castiga, e ele olha para você, sabendo que, se você não ousa intervir abertamente, pelo menos lhe dá sua incondicional cumplicidade e apoio... Além é claro das compensações....

Até as coisas negativas se viram em alegrias quando se intrometem entre avó e neto: o bibelô de estimação que se quebrou porque o menininho — involuntariamente! — bateu com a bola nele. Está quebrado e remendado, mas enriquecido com preciosas recordações: os cacos na mãozinha, os olhos arregalados, o beiço pronto para o choro; e depois, o sorriso malandro e aliviado porque "ninguém" se zangou, o culpado foi a bola mesma, não foi, Vó?

Era um simples boneco que custou caro. Hoje é relíquia: não tem dinheiro que pague.

Raquel de Queiroz

27 comentários:

José disse...

Olá Denise!
Saudades também eu tenho de ti, faz tempo que a gente não se vê, e eu não sei porquê.
Mas o que interessa mesmo, e a gente estarmos juntos, neste ano que ainda agora começou.

um beijo,
José.

Unknown disse...

Eu ganhei um neto á tês semanas.

Um 2011 cheio de paz,amor e saúde.

Graça Pereira disse...

Denise
Há tanto tempo que não nos encontramos e agora, emcontro uma vóvó feliz, babosa, de bem com a vida! Fico feliz por ti...Eu estou na fila, á espera desse título tambem que, nunca mais acontece.
Desejo-te tudo de bom neste novo ano.
beijocas
Graça

Flavio Ferrari disse...

Ainda não sou avô ... dizem que ê uma delícia ... parabéns

Ju ♥ disse...

q lindo!
eu quero muuuito dar um neto pra minha mãe.
feliz ano novo pra ele, muita saúde e luz.
bjs

Anônimo disse...

Puxa Dê, ele está longe? Pensei que morassem perto de vc.
Minhas netas estão em Itapetininga. Quando as vejo, elas começam a se acostumar e logo nos separamos.
cafunés de um avô em uma avó (vc começou cedo, hein? rs)

Denise disse...

José querido
Andei tão ocupada com trabalho que mal tinha tempo de atualizar o blog,quanto mais visitar aqueles que me são caros,como é você.
Prometo que neste ano que se inicia,estarei mais presente junto aqueles que gosto e me fazem tanta falta.

grande beijo

Denise

Denise disse...

Manuel qurido
Vovô novo,é uma experiencia tão enriquecedora .
Muita Luz a todos vocês e nesta nova caminhada do seu netinho.

carinho
Denise

Denise disse...

Graça ,querida

Ando mesmo sumida e sem muito tempo.

Visitar você com frequência é uma de minhas metas para este ano,já que gosto tanto de te ler e estar "junto" a você.

Quanto a felicidade de SER avó,se tu soubesse a revolução sentimental,o quanto nos descobrimos capazes de amar e doar-se,tu obrigava (rindo) seus filhos a te darem netos rsrsrsrs.

um grande e carinhoso beijo a ti e para todos aqueles q lhe são importantes.

Denise

Denise disse...

Flávio,
è sim uma DELICIA.

eu recomendo rs

carinho
Denise

Denise disse...

Chorik

Até o natal,ele estava bem pertinho ,era só bater saudades ,lá estava eu .
Este ano ele estara no interior,e não mundo proximo ,já que moramos num estado gigante rs.

mais nada me impedira de pegar estrada (8 hs) para estar com ele,ao menos de 15 em 15 dias rs.

Já estou deixando um kit viagem a postos,justamente para que ele não desacostume de mim (avó possessiva rs)

Quanto a começar cedo...

Olha quem fala rsrsrsrs,sou mais velha q vc homem rs

beijão
Denise

Denise disse...

Sen

Filhos são maravilhosos,netos especiais.

sempre delicioso vc aqui

beijo
Denise

Sonica disse...

Denise,
Que presente vc me deu!
Testo impecável!
Bis e bom finde!

Anônimo disse...

8 horas? Faz um pitstop por aqui então, quando for. Ou é mais para cima?

Denise disse...

Sonica querida.
Perfeita a Raquel não é?

Um afago de uma avó coruja para outra também coruja rs

Denise

Denise disse...

Cho,longe pra dedéu,mais vou a noite e dormindo,tudo apenas para que meus dias sejam iluminados e coloridos,com aqueles abracinhos de abraçar e o vovó Dinise (rs) acompanhado com aquele olhar maroto que sabe que teremos diversão garantida.

afagos
De

Lu Dantas disse...

Quanta saudade da minha avó!

Beijo grande

Jou Jou Balangandã disse...

Dê, que texto lindo! Me fez até repensar na maternidade ... afinal, se não for mãe, não serei avó ... vamos ver, rs

Beijous

Denise disse...

Lu.......minha saudades esta focada nesse serzinho adoravel,maroto e muito querido,que esta morando em outra cidade que não a minha.
E que faz de meus dias a certeza de que amar nunca é demais.

Saudades boa é bom.

afagos
Denise

Denise disse...

Jou
Nunca me questionei a maternidade,era-me natural tanto q fui mãe com 19 anos por escolha,não por descuido.

Se existe algo que sei que fiz muito bem,foi ser mãe,continuo sendo rs

Hoje ser AVÒ,me dá a certeza que neste quesito,minhas escolhas foram acertadas.

Perfeito o texto da Raquel.
Roubei pra mim rs

afagos meus
Denise

Denise disse...

errei tudo Cho......é pertinho de Adamantina ,tá bom pro cê?
rs

afagos confusos
De (a ruim de geografia)

Dalva Nascimento disse...

Olá, minha querida...

estava com saudades de passear por aqui pelo teu cantinho. Hoje coloquei a leitura em dia, e me emocionei muito com este texto! Sabe, sinto bem essa nostalgia dos bracinhos em torno do pescoço... Acho lindo uma vovó assim, toda boba e babando o neto!

Beijo grande em ti!
Feliz 2011!

Emília Pinto disse...

Parabéns para o seu André, Denise! O meu Lucas ( filho do André ) faz 4 anos em Março. Olhe, eu também estou longe dos meus; eles vêm cá passar o fim de seman. mais ou menos de mês a mês e nos entretantos visito-os eu; claro que a viagem é bem mais curta; é 1,30h em autoestrada;sabe que aqui tudo é perto, pois Portugal é um ovo. Às vezes dá-me a saudade e lá vamos nós; passamos o dia com eles e à noite voltamos; outras vezes ficamos todo o fim de semana. É uma gostosura ser avó. Muitas felicidades para o seu netinho. Um grande beijinho, amiga e até breve. Tenha uma bela semana
Emília

Anônimo disse...

Olá!
Adorei seu cantinho e agora te sigo!
Beijos meus!
Uma ótima semana pra ti!

Denise disse...

Flor
Eles tem abraços de abraçar o mundo.

e sou sim a mais babona avó orgulhosa de SER.

adorei vc aqui,grata

Denise disse...

Emilia,minha querida amiga

Somos privilegiadas e temos a benção de poder SER dessa forma avó e exercer esse amor,tão especial.

afagos ,sempre agradecidos

Denise disse...

Pri

Bacana você aqui é sempre gostoso fazer novos amigos

afagos receptivos

De