
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo que
catar espinhos na água
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces de uma casa
sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio
do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores
e até infinitos.
Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito
porque gostava de carregar
água na peneira.
Com o tempo descobriu
que escrever seria
o mesmo que carregar
água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser
noviça, monge ou mendigo
ao mesmo tempo.
O menino aprendeu
a usar as palavras.
Viu que podia fazer
peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.
Foi capaz de interromper
o vôo de um pássaro
botando ponto final na frase.
Foi capaz de modificar a tarde
botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor!
A mãe reparava
o menino com ternura.
A mãe falou:
Meu filho você vai ser poeta.
Você vai carregar
água na peneira a vida toda.
Você vai encher os
vazios com as suas
peraltagens
e algumas pessoas
vão te amar por seus
despropósitos.
Manoel de Barros
6 comentários:
acho q somos mesmo assim.
pessoas q tentam carregar agua na peneira.
realmente o vazio é melhor. o vazio oferece oportunidades nao é mesmo...
e o que seria da vida sem os despropósitos? :)
beijo doce.
Denise,
Passe no Dimensões Internas e pegue um selinho, se quiser... com atraso de minha parte.
:)
abraço,
Maris
No minimo nos da oportunidade de preenche-lo,,,,,de uma forma ou de outra,ate.....as vezes com vazio.
adorei que tenha vindo
De
Dani
Monotona e sem graça não é?
gostei que tenha vindo
De
Ah que lindo Adriana moça de luz e energia transformadora
grata pelo mimo........vou lá buscar sim
beijo
De
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