24 abril, 2009

A mulher Selvagem


Nesta crônica quero fazer uma homenagem a um tipo especial de mulher. Eu a chamo de mulher selvagem. Sua beleza é arisca, arredia aos modismos. Ela encanta por um não-sei-quê indefinível... mas que também agride o olhar. É um tipo raro e não tem habitat definido: vive em Catmandu, mora no prédio ao lado ou se mudou ontem para Barroquinha. E não deixou o endereço.

A mulher selvagem em quase tudo é uma mulher comum: pega metrô lotado, aproveita as promoções, bota o lixo para fora e tem dia que desiste de sair porque se acha um trapo. Porém em tudo que faz exala um frescor de liberdade. E também dá arrepios: você tem a impressão de que viu uma loba na espreita. Você se assusta, olha de novo... e quem está ali é a mulher doce e simpática, ajeitando dengosa o cabelo, quase uma menininha. Mas por um segundo você viu a loba, viu sim. É ela, a mulher selvagem.
A sociedade tenta mas não pode domesticá-la, ela se esquiva das regras. Quando você pensa que capturou, escapole feito água entre os dedos. Quando pensa que finalmente a conhece, ela surpreende outra vez. Tem a alma livre e só se submete quando quer. Por isso escolhe seus parceiros entre os que cultuam a liberdade. E como os reconhece? Como toda loba, pelo cheiro, por isso é bom não abusar de perfumes. Seu movimento tem graça, o olhar destila uma sensualidade natural - mas, cuidado, não vá passando a mão. Ela é um bicho, não esqueça. Gosta de afago, mas também arranha.
Repare que há sempre uma mecha teimosa de cabelo: é o espírito selvagem que sopra em sua alma a refrescante sensação de estar unida a Terra. É daí que vem sua beleza e força. E sua sabedoria instintiva. Sim, ela é sábia pois está em harmonia com os ritmos da Natureza. Por isso conhece a si mesma, sabe dos seus ciclos de crescimento e não sabota a própria felicidade. Como todo bicho ela respeita seu corpo mas nem sempre resiste às guloseimas. Riponga do mato, Gabriela brejeira? Não necessariamente, a maioria vive na cidade. E há dias paquera aquele pretinho básico da vitrine. E adora dançar em noite de lua. Ah, então é uma bruxa... Talvez, ela não liga para rótulos. Sabe que a imensidão do ser não cabe nas definições.
Mulheres gostam de fazer mistério. Ela não, ela é o mistério. Por uma razão simples: a mulher selvagem sabe que a vida é uma coisa assombrosa e perfeita e vive o mais sagrado dos rituais. Ela sente as estações e se movimenta de acordo com os ventos, rindo da chuva e chorando com os rios que morrem. Coleciona pedrinhas, fala com plantas e de uma hora para outra quer ficar só, não insista.
Não, ela não é uma esotérica deslumbrada mas vive se deslumbrando: com as heroínas dos filmes, aquela livraria nova, o CD do fulano... Ela se apaixona, sonha acordada e tem insônia por amor. As injustiças do mundo a angustiam mas ela respira fundo e renova sua fé na humanidade. Luta todos os dias por seus sonhos, adormece em meio a perguntas sem respostas e desperta com o sussurro das manhãs em seu ouvido, mais um dia perfeito para celebrar o imenso mistério de estar vivo.
Ela equilibra em si cultura e natureza, movendo-se bela e poética entre os dois extremos da humana condição. Ela é rara, sim, mas não é uma aberração, um desvio evolutivo. Pelo contrário: ela é a mais arquetípica e genuína expressão da feminilidade, a eterna celebração do sagrado feminino. Ela está aí nas ruas, todos os dias. A mulher selvagem ainda sobrevive em todas as mulheres mas a maioria tem medo e a mantém enjaulada. Ela é o que todas as mulheres são, sempre foram, mas a grande maioria esqueceu.
Felizmente algumas lembraram. Foram incompreendidas, sim, mas lamberam suas feridas e encontraram o caminho de volta à sua própria natureza. Esta crônica é uma homenagem a ela, a mulher selvagem, o tipo que fascina os homens que não têm medo do feminino. Eles ficam um pouco nervosos, é verdade, quando de repente se vêem frente a frente com um espécime desses. Por isso é que às vezes sobem correndo na primeira árvore. Mas é normal. Depois eles descem, se aproximam desconfiados, trocam os cheiros e aí... Bem, aí a Natureza sabe o que faz.

Ricardo Kelmer

Recebi de um amigo que diz reconhecer em mim muito desta mulher.Será?
(sorrindo)

Denise

8 comentários:

Anônimo disse...

Cheguei tarde demais !
Concordo com esse seu amigo.
Apenas queria ter dito isso pra você,mulher deliciosamente selvagem.

Um cheiro
Fernando

Anônimo disse...

Lindo demais De
Quando me mandou fiquei imaginando porque não colocou no blog,vim aqui e eis você,minha amiga selvagem.
beijo
"Cris"

Denise disse...

Menino menino!
Passa as horas,os dias e os anos e vc continua bobo?
Gosto um tanto desse sei jeito,mesmo q maluquinho.

Beijos

De

Denise disse...

Então Cris,Achei tão lindo alem de muito apropriado que trouxe pra cá pro blog também.

beijos linda

De

Sir Stephen e SUA maria{SS} disse...

vim aqui lhe convidar para o bolo de aniversário de 4 anos de coleira!
vem festejar Conosco!
beijos felizes e doces

maria{SS}

Maria disse...

Sim, nessa mulher muitas de nós se reconhecerão e teremos medo de termos sido descobertas em nosso segredo mais íntimo...rsrs...

Insônia de amor? É comigo mesmo...

Beijos!!!

Denise disse...

Maria cheia das (in)...sonias rs

Somos!!!!

Seremos Maria das Insonias,
melhor que Maria das Dores não é?

Beijocas Ma

Anônimo disse...

Oi, Denise selvagem...
Bom saber que o arquétipo tá vivo em ti. Caso deseje ler o texto original, ei-lo:
http://blogdokelmer.wordpress.com/2008/07/04/a-mulher-selvagem
bjss e parabéns pelo blog
Ricardo Kelmer