11 setembro, 2007

"O AMOR DEIXA MUITO A DESEJAR"

Recuso-me a virar coisa
Seria um desperdicio ,

tanta energia,
tanto potencial de bem querer

QUERO O TUDO que eu tambem posso oferecer Porque sou muito
Sou tudo
e muito é o amor pra mim.




"O AMOR DEIXA MUITO A DESEJAR"

"O amor já teve um toque sagrado, a magia de uma inutilidade deliciosa, já foi um desafio ao dia-a-dia que nos tirava da vida comum. Não existe mais o amor definhando de solidão, nem Romeus nem Julietas, nem pactos de morte, não existe mais um amor nos levando para uma galáxia remota, uma eternidade semi-religiosa. O amor tinha uma fome de compaixão pelo outro, de proteção à pessoa amada. Isso está acabando. O ritmo do tempo atual acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos por que "amamos", temos medo de nos perder no amor e fracassar no mercado. O amor pode atrapalhar a produção. Por isso, os filmes de Almodóvar são tão oportunos. Temos de fazer filmes assim, cheios de amor, sem efeitos, sem denúncias. O amor perdeu a gratuidade, as pessoas "amam" por desejo de ter um amor que não sentem mais. O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar, não tem mais a utilidade do sacrifício pelo "outro". O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perde-se dentro de "olhos de ressaca", nem nas "pernas de fulana", nem temos as bocas beijadas por amantes tutti tremanti, nem o formicida com guaraná. Não se diz mais: "Deus sabe como amei...", mas "Deus sabe quantas(os) amei...". A publicidade devastou o amor, falando na "gasolina que eu amo", no sabonete que faz amar, na cerveja que seduz. Há uma obscenidade flutuando no ar o tempo todo, uma propaganda difusa do sexo impossível de cumprir. Como comer todas as moças da lingerrie e do xampu, como atingir um orgasmo pleno e definitivo? A sexualidade é finita, não há mais o que inventar. Já o amor, não... O amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza . Mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes. O amor passa a buscar não mais a entrega, mas um domínio. O amor vira um objeto de consumo, fast love, com obsolescência programada para durar pouco. O amor deixa muito a desejar. Em geral, o amor existe hoje como uma espécie de adoçante para justificar, legitimar uma tesão ou uma conquista. Estamos com fome de amor cortês, num mundo em que tudo perdeu a aura. Por isso, o filme de Almodóvar, cheio de compaixão sussurrada, parece um segredo religioso, uma saudade inexplicável de alguma coisa que existe "aquém", antes da vida. Nos anos 60, liberdade sexual foi uma questão política. Hoje, podemos tudo, podemos casar até com jacarés ou macacas, sem escândalo, desde que não prejudique a produção. Mas o que invisivelmente esta virando uma nova necessidade polítca é o amor e seus subprodutos. (...)

Estamos virando coisas. Precisamos aprender a amar de novo as pedras, as árvores, as nuvens, até chegarmos a nós mesmos... E acho que isso vai surgir na América, como foi nos anos 60. A luta pelos direitos civis será agora a luta pela beleza da inutilidade."

Arnaldo Jabor


"Amor é prosa, sexo é poesia"

Denise

Nenhum comentário: