23 novembro, 2008

Traduzir-se


Uma parte de mim

é todo mundo:

outra parte é

ninguém:

fundo sem fundo.

Uma parte de mim

é multidão:

outra parte

estranheza

e solidão.


Uma parte de mim

pesa, pondera:

outra parte

delira.



Uma parte de mim

almoça e janta:

outra parte

se espanta.



Uma parte de mim

é permanente:

outra parte

se

sabe de repente.


Uma parte de mim

é só vertigem:

outra parte,

linguagem.



Traduzir uma parte

na outra parte

— que é uma

questão

de vida ou morte —

será arte?

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